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A histórica viagem automóvel de Bertha Benz
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A história automóvel conta-nos que o primeiro veículo movido com um motor foi criado por Karl Benz e financiado pela sua esposa, Bertha. A invenção, datada de 1885, foi batizada de Benz Patent-Motorwagen. No entanto, só no ano seguinte é que Karl decidiu revelar a sua invenção ao público, na cidade de Mannheim (Alemanha), onde o casal residia com os seus filhos. No entanto, poucas pessoas manifestavam interesse em adquirir tal invenção. Bertha não conseguia aceitar que a descoberta do seu marido, com tanto potencial, pudesse passar tão despercebida a todos, e decidiu fazer algo a respeito disso, como mulher de fibra que ela era.

 

A 5 de Agosto de 1888, Bertha, que contava com 39 anos, acompanhada dos seus dois filhos mais velhos (Eugen, de 15 anos, e Richard, de 13 anos), conduziu um Benz Patent-Motorwagen Model III desde Mannheim até Pforzheim, a sua cidade natal. Esta viagem, feita sem o conhecimento do seu marido, e sem qualquer autorização por parte das autoridades, foi icónica e ficou marcada na História – foi a primeira viagem automóvel de longa distância, pois Bertha conduziu o automóvel do seu marido ao longo de 106 km (mesmo que ilegalmente), tendo apenas recorrido às marcas deixadas por carroças para saber o caminho! É importante realçar que antes desta jornada histórica, as viagens em veículos motorizados eram muito curtas, e sempre retornando ao ponto de origem, muitas vezes com a ajuda de mecânicos.

Apesar de Bertha ter alegado que fez a viagem porque queria visitar a sua mãe, a verdade é que ela tinha outros objetivos em mente: provar a Karl (que não tinha conseguido convencer o público da inovação da sua invenção) que o automóvel poderia ser um sucesso, assim que o público percebesse a sua verdadeira utilidade, e dar também confiança necessária ao seu marido, para que ele soubesse que a descoberta dele tinha sucesso.

 

Bertha saiu de Mannheim ao amanhecer, deixando um bilhete ao seu marido, que ainda dormia. Pela frente, contou com vários problemas no automóvel, que necessitou de resolver durante o caminho. Mas desengane-se quem pensa que isso a fez impedir de terminar a viagem! Na verdade, nada a parou, além de ela ter demonstrado possuir ótimas capacidades técnicas automóveis ao longo da viagem.

O automóvel, sem um depósito de combustível adicional, e com uma capacidade de apenas 4,5 litros, fez com que Bertha, a meio do caminho, necessitasse de utilizar ligroína (um dos solventes do petróleo, necessário para mover o automóvel) para prosseguir o seu caminho. Naquele tempo, o produto só se encontrava à venda em farmácias. Em Wiesloch, Bertha parou o seu automóvel para ir à farmácia daquela cidade comprar mais combustível. Assim, a farmácia de Wiesloch tornou-se na primeira estação de combustível da história.

Além disso, Bertha limpou também um tubo de combustível que tinha entupido, com o gancho do seu chapéu, e usou a liga da sua meia como material de isolamento. A certo ponto da viagem, um ferreiro teve que a ajudar a consertar uma corrente. Quando os travões, que eram feitos de madeira, começaram a falhar, ela visitou um sapateiro para instalar couro nos travões, criando assim o primeiro par de lonas de travões do mundo. Um sistema de arrefecimento por vapor foi instalado para arrefecer o motor, o que fazia com que o abastecimento de água fosse uma preocupação constante ao longo da viagem. Devido a isso, foi necessário adicionar água ao automóvel de todas as vezes que faziam uma paragem no caminho. As duas velocidades do veículo nem sempre eram suficientes para subir todas as subidas que existiam no percurso, portanto Richard e Eugen tiveram que o empurrar para conseguirem avançar. Bertha e os filhos chegaram a Pforzheim um pouco depois do entardecer, e notificou o seu marido do sucesso da viagem, através de um telegrama enviado. E como se não bastasse a viagem de ida, Bertha também quis fazer a viagem de regresso! Três dias depois, voltaram a Mannheim, por outro caminho, fazendo um percurso de aproximadamente 90 km.

 

Ao longo do caminho, várias pessoas ficaram assustadas com o automóvel, pensando que se tratava de um sinal que o final do mundo se estava a aproximar. Outras pessoas ficaram interessadas e, devido a isso, foi também uma viagem muito falada pelos habitantes alemães, tal como Bertha previra. Esta viagem acabou por ajudar bastante Karl Benz na sua invenção, pois ele conseguiu introduzir várias melhorias no seu automóvel, de acordo com os relatos e experiências da esposa. Bertha Benz fez várias sugestões importantes, entre elas a introdução de um equipamento adicional para subir colinas. Com isto, Karl Benz vendeu vários dos seus automóveis, e acabou por fundar a Benz & Cie., uma das duas empresas que mais tarde viria a dar origem à Mercedes-Benz.

A história de Bertha Benz é realmente inspiradora para todos, sendo ela uma mulher cheia de fibra e determinação. Naturalmente, a Mercedes-Benz não esqueceu isso, e toda a história de Bertha Benz pode ser lida neste link (em inglês). Também vários vídeos foram criados sobre esta viagem incrível, sendo este um dos mais conhecidos, que retrata o momento em que Bertha comprou 10 litros de ligroína na farmácia de Wiesloch:

 

Em 2008, a Bertha Benz Memorial Route foi aprovada pelo governo alemão. Esta rota reconstitui na íntegra todo o percurso feito por Bertha e os filhos, tanto na ida como na volta, com estátuas, placas explicativas e excertos da história ao longo do caminho.

18-06-2021